Olhando agora para trás, não posso deixar de me interrogar: alguma coisa foi real?
A vida continuou como se nada tivesse acontecido e talvez não tenha acontecido. De que outra forma poderia eu explicar o facto de te teres tornado um estranho tão facilmente?
Não acredito no que se diz sobre manter a amizade com os antigos amantes. Quem é que ficaria feliz por ver alguém que um dia chamou de seu estar com outra pessoa?
Não são muitas pessoas, não concordas? Prefiro chamar-lhe o que é, um estranho, não importa o quanto doa.
O que eu acredito é que quando se diz que o amor é estranho. Porque é assim. Nunca se sabe quando chega e, pior que tudo, nunca se sabe quanto tempo fica.
Há um certo mistério quando se trata de amor e agora percebo que não escolhemos quem amamos e que algumas relações não estão destinadas a acontecer.
Gostava de acreditar em felizes para sempre, mas já não sou uma menina.
Gostava que esta vida não me tivesse feito esquecer um amor que dura para sempre, mas fez. É apenas um pensamento feliz no fundo da minha mente, cuidadosamente guardado com o resto dos meus devaneios.
O problema é quando uma pessoa vira tudo o que conhecíamos de pernas para o ar, como um tornado, e no fim deixa-nos sem nada, confusos, magoados e sozinhos.
Fazem-nos acreditar que são a pessoa certa e que um amor de conto de fadas é possível. Que piada cruel.
Sei perfeitamente que, para que algo resulte, é preciso fazer um esforço e o esforço é um reflexo do amor de alguém por nós. Se não há esforço, não há amor.
É uma verdade simples com os sentimentos mais complicados.
Quando se ama alguém, não se desiste. Quando amamos alguém, preocupamo-nos em compreendê-lo.
Quando amamos alguém, tentamos aproximar-nos.
Foi assim que soube que tinhas deixado de me amar.
Estavas cada vez mais longe. Por mais que eu tentasse manter-nos próximos, arranjavas sempre maneira de nos distanciar.
O meu mundo caiu num instante. O homem que eu conhecia tinha desaparecido. Tive de o deixar ir.
E fi-lo. Deixei ir o homem que pensava conhecer. O homem que eu pensava ser o tal para mim.
Não éramos mais do que estranhos com algumas recordações.
Só de pensar nisso, ainda hoje me aterroriza.
Lembro-me do tempo em que eu era tudo em que pensavas, quando me escrevias sem fim mensagens de amor e agora, tenho medo de chamar a tua atenção se alguma vez nos encontrarmos.
Quase parece bizarro quando olho para as coisas que me deste na prateleira e começo a recordar aqueles pequenos momentos que partilhámos. Momentos em que me conhecias.
Lembro-me muito bem. Como me dizias que eu era a tua pessoa. Como fazias jantares horríveis de que nos ríamos.
Como falámos toda a noite sobre os nossos medos mais profundos, vimos os nossos filmes preferidos.
Os teus abraços carinhosos nos momentos perfeitos e beijos na testa, todos os Amo-te, boa noite e bom dia amor. Agora tudo desapareceu.
Às vezes gostava de não te ter conhecido. Serias um estranho como és agora, mas eu não seria assombrada por memórias de um amor que morreu.
Já não estou zangada contigo. Há uma parte de mim que acredita que um dia serei capaz de perceber isto. Espero que um dia me sinta grata pelo facto de me teres acontecido.
Até lá, desejo-vos um último adeus e rezo para que, quando nos encontrarmos, não desviem o olhar.