Deves gostar.
És fraco - Queres atenção.
Estas são as declarações que recebi todos os dias, durante anos, de amigos, familiares e desconhecidos que testemunharam tudo o que se passou.
Ainda hoje, quando conto a minha história, os olhares de confusão e simpatia são pintados nas suas caras. E depois há o cretino ocasional que só teve boas relações na vida e que pensa que gostamos daquilo por que estamos a passar.
Os abusos podem ser emocionais, físicos, financeiros, sexuais e muitos outros. Eu encontrava-me numa das piores relações de abuso emocional e físico.
A minha história de amor distorcida começou com o controlo das redes sociais, depois com empurrões. Passou a ser cuspida, pontapeada, esmurrada, a ser chicoteada com objectos e, por fim, a ser mordida/magoada várias vezes pelo cão dele.
Depois, havia o controlo sobre se e quando podia dormir, tomar banho, maquilhar-me, quem via na minha família e quando podia trabalhar.
Ficar parecia mais seguro do que partir, de uma forma muito confusa. Imagina decidir aguentar os abusos porque tens mais medo do que acontece depois. Aprender a fazer o seu dia a dia sem que lhe digam o que vai fazer nesse dia ou sem que lho permitam.
A parte mais difícil é ir embora e não voltar. Podia ir-me embora num acesso de derrota, raiva, tristeza, mas não atender o telefone e aceitar o pedido de desculpas foi a parte mais difícil.
A ESPERANÇA ERA ENORME - Esperança de que tudo voltasse a ser como dantes; esperança de que mudasses e percebesses que o que se estava a passar não estava bem. Esperança de que deixasses de deixar marcas no meu corpo. Nos teus feitiços de bondade induzidos pela droga, dizias que sabias que já não me podias magoar fisicamente como antes.
O original Jekyll e Hyde em pessoa. Fizeste-me sentir inútil e eu acreditei nisso. Até ao dia em que toda a minha esperança se esgotou, aguentei tudo o que me foi atirado por ti.
Partir não é sequer um pensamento na tua cabeça a maior parte do tempo. Ou, se o faz, rapidamente se desvanece, porque quem a maltrata é, garanto, um cretino narcisista que sabe que se lhe disser que vai estar com outra mulher ou algo de louco como isso a manterá lá.
A ideia de perder a pessoa por quem passaste tanto tempo é aterradora. Fizeram-te uma lavagem cerebral para pensares que não vales a sujidade das ruas. Mas estou aqui para te dizer, minha menina - a única sujidade na tua vida é aquela que te está a fazer isto!
Eu sei que isto é assustador, sei que não atender o telefonema dele a faz literalmente tremer só de pensar na reação que ele vai ter. Ele vai dizer a todos os seus amigos que você é uma pessoa terrível e que NUNCA lhe tocou ou traiu. Confie e acredite que, depois de se afastar, tudo o que for partilhado entre si e ele é agora do conhecimento público.
Eu já passei por isso. Fiquei de cabeça baixa, sozinho, a tremer à porta do departamento de Proteção contra os Abusos (PFA) do meu condado, com as lágrimas a correrem-me pela cara. Fiquei paralisada. Não conseguia mexer-me até que um agente se aproximou de mim e me perguntou se estava perdida.
Eu estava perdido. Já não sabia quem eu era quando me olhava ao espelho. Não fazia ideia do que gostava, não tinha passatempos, não tinha amigos. Perdi tudo nos três anos em que me dediquei a ele.
Mesmo depois de ter recebido uma ordem do tribunal, demorou muito tempo a querer encarar-me e ver se a imagem que ele me pintou na minha mente era a mesma que me olhava ao espelho. Demorou muito tempo até conseguir tirar uma fotografia minha e colocá-la online. Encontrar-me novamente bonita ou sair de casa para estar em contacto social demorou muito tempo. A maioria dos meus amigos regressou à minha vida. Fiz mais. Comecei a namorar novamente. Não foi nada fácil, mas garanto que assim que perceber que não é normal chorar todos os dias e estar tão perturbado, vai apaixonar-se pela paz.
Não existe uma cura de um dia para o outro para resolver os traumas que sofreste. A única solução é o tempo e o amor-próprio. Amar a si próprio e colocar a sua segurança, felicidade e futuro nas suas mãos.
por Jess Heller