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Uma carta para o homem que me abandonou quando eu mais precisava dele

Uma carta para o homem que me abandonou quando eu mais precisava dele

Tu prometeste. Prometeste que ias ficar ao meu lado até ao fim dos nossos dias, mas onde estás agora? Onde estás agora que eu mais preciso de ti?

Deste-me a tua palavra de que estarias lá para mim até que tudo estivesse bem e mesmo para além disso, mas quebraste essa promessa e deixaste-me cair sozinha, sem ninguém para me salvar.

Prometeste que não me deixarias. Mas deixaste. Não estiveste lá para mim quando mais precisei de ti.

Eu sofria de depressão desde que me lembro e pensavas que não era nada de especial, porque me amavas da cabeça aos pés, amavas a minha alma, o meu coração E a minha mente.

Nunca pude compreender o que viste em mim, mas o que viste foi todo o teu mundo, toda a tua vida. Ou pelo menos era isso que me dizias.

É que a depressão não é o mesmo que estar triste. Se estás triste, tens uma razão para isso, mas a depressão é uma doença mental que não te permite sorrir quando o sol está a brilhar e não te permite dançar quando a tua música favorita está a tocar.

Tivemos um começo difícil. Eu desatava a chorar sempre que ficava muito tempo sozinha com os meus pensamentos e, quando te telefonava, tu estavas sempre lá para mim, às vezes não saías de casa durante dias, fazias-me chá e comida para comer, porque de outra forma eu não comia.

Ensinou-me que nem todas as pessoas me iam abandonar. Isso mudou tão cedo.

Depois de anos de dias bons e maus, começaste a olhar para mim como um fardo, como olharias para alguém que só te dificulta a vida.

A tua vida teria sido muito mais fácil sem mim, certo? Eu chorava até adormecer todas as noites porque comecei a notar as mudanças no teu comportamento.

Não estavas lá para mim quando eu pensava que o mundo inteiro estava contra mim, não estavas lá quando os meus pensamentos obscuros e fazia-me ficar de cama durante dias.

É assustador estar sozinho com os seus pensamentos. É uma sentença de morte quando se tem depressão.

Nunca quis que sofresses, nunca quis que dedicasses tudo o que podias a alguém como eu. Mas continuaste a fazê-lo. Até ao momento em que não o fizeste.

Até ao dia em que abri a porta e me disseste que querias levar as tuas coisas para tua casa, porque não havia necessidade de estarem em minha casa.

Disseste-me que a tua vida era demasiado curta para a passares com alguém como eu. Alguém que não era capaz de lutar por si própria. Disseste-me que eu simplesmente não valia a pena. Fizeste-me acreditar nisso.

Durante dias, meses e até anos, nunca duvidei da tua decisão. Eu era sempre o necessitado e pensava que nunca dava nada em troca.

Assim, quando a minha mente se aclarou, vi tudo de uma forma que nunca pensei ser possível.

Vi o seu comportamento desde o início, mas pensei que o estava a imaginar. Vi a forma como os teus olhos percorriam os corpos de outras mulheres.

Vi a forma como trocava olhares com eles, sem saber o que faria com eles depois de eu ir para casa.

Sempre pensei que as palavras que me dizias, os insultos que sofria, que os merecia.

Nunca pensei, nem por um segundo, que tivesse algo para te perdoar, apesar de te ter perdoado demasiadas vezes sem sequer saber.

Com isto em mente, eu voltava sempre a tudo e deixei de ver tudo como culpa minha. Se realmente me amasses, essas coisas não teriam acontecido.

Eu não teria sofrido ainda mais do que já sofri. É como se o tivesses feito de propósito, para tornar a minha dor mais forte. Como se já não fosse suficientemente forte.

Eu precisava de ti. Precisava que me mostrasses que a vida não é para ser assim tão dura. Que a vida é bela, selvagem e fácil. Por uma fração de segundo, até pensei que era.

Mas deixa-me dizer-te que me ensinaste uma grande lição. Fizeste-me ver que ninguém me pode salvar se eu não me salvar a mim próprio. Tenho de ser eu a mostrar-me o dia de sol e a noite estrelada.

Preciso de mostrar a mim próprio as flores e as lindas borboletas. Preciso de me mostrar a minha própria beleza. Para começar, nunca foi o teu trabalho.

Hoje, sou eu que sou mais forte, porque tu desististe e eu fiquei a lutar sozinha.

Ficando mais forte, derrotando tudo o que estava no meu caminho para a felicidade. E fi-lo sozinha.

Mas tenho de vos agradecer por me terem feito perceber isto. Por isso, obrigado. Provavelmente era esse o teu objetivo.

Fiz café para mim própria esta manhã e ri-me ao pensar na rapariga pequena e quebrada que eu era antes. Ela regressa a mim de vez em quando.

Ela visitou-me ontem à noite e assustou-me, fez-me chorar. Mas esta manhã ela foi-se embora e eu estou mais forte do que nunca.

Eu sei que posso conquistar o mundo sozinho. Mesmo sem ti. Muito provavelmente sem ti.