Quando depositamos a nossa confiança em alguém, fazemo-lo de boa fé. Confiamos nas pessoas com todo o nosso coração, pensando que elas nunca usarão essa confiança para nos magoar. Mas, normalmente, as pessoas que nos quebram são aquelas que jurámos que nunca fariam isso.
A pessoa que eu jurei que nunca me iria magoar, na verdade, partiu-me em pedaços. E como é que se recupera de ser partido por alguém que se amava e em quem se confiava mais?
Tentei esquecer, mas não resultou. Tentei não pensar nisso, fazendo tudo o que podia para me manter ocupado, mas não ajudou. Depois tentei compreender, mas não consegui. Não conseguia compreender porque eu nunca o teria feito. Nunca usaria a confiança de alguém de uma forma má quando sei aquilo por que essa pessoa passou. Nunca deitaria gasolina no fogo.
Eu nunca partiria alguém. Nunca faria algo tão brutal a alguém porque sei o quanto dói. Não tenho medo de ir para o inferno porque duvido que seja pior do que isto.
O que mais me aflige é o facto de não ter a certeza se alguma vez vou ser verdadeiramente feliz. Porque cada vez que sorrio, o pensamento do que me aconteceu começa a bater no fundo da minha mente. E acabo por ficar completamente impotente perante isso.
Quando somos quebrados por alguém em quem mais confiamos, transformamo-nos noutra pessoa.
Não sou nem metade da pessoa que costumava ser. Já não me rio nem metade do que me ria antes. Fico ansioso no momento em que alguém me pergunta algo pessoal. Recuso-me a dizer às pessoas como me sinto.
O que se passa é que tenho vergonha. Não quero contar a ninguém o que me aconteceu. Não quero que ninguém saiba como fui ingénua ou como confiei na pessoa errada. Não quero que ninguém saiba o quão fraco eu era.
Quando se é quebrado por alguém em quem se confia mais, tem-se medo de amar de novo.
Tenho medo de voltar a dar o meu coração a alguém. Tenho medo de me abrir. Não quero que este tipo de coisas volte a acontecer.
Eu guardo o meu coração e afasto as pessoas ao primeiro sinal daquela borboleta a despertar no meu estômago. Porque sei que não seria capaz de sobreviver a outro desgosto.
Quando alguém em quem mais confiamos nos quebra, esquecemos completamente a confiança.
Quem me mostrará que nem toda a gente é igual? É demasiado arriscado aceitar a ajuda de alguém para provar que estou errado. É demasiado trabalhoso deixar-me amar de novo. Já o fiz uma vez e não me fez bem nenhum.
A pior coisa de ser quebrado por alguém em quem mais se confia é a sensação de não ser digno que se mantém na pele todos os dias.
Quando nos quebramos, este sentimento de não sermos suficientemente bons continua a aumentar constantemente. Outrora, eu carregava a minha autoestima como a minha joia mais preciosa e agora não tenho mais nada dela.
Estou sempre a pensar que não sou suficientemente bom porque a pessoa em quem mais confiava levou a melhor sobre mim. A pessoa em quem eu mais confiava não me via como digna, por isso decidiu quebrar-me. Se eu não era digna para a pessoa que amava, como é que vou ser digna para outra pessoa?
Estar constantemente a olhar por cima do ombro, esperar o pior das pessoas e ser cauteloso é uma treta, mas pelo menos não tenho de me preocupar em ser desiludido ou magoado outra vez. Ninguém me consegue quebrar outra vez porque ninguém tem hipótese de chegar até mim. Estou farto de deixar as pessoas entrarem.
Eu acreditava que havia bondade em toda a gente. Acreditava que as pessoas que amo são boas. E agora que fui pisado tantas vezes, não tive outra escolha senão deixar ir aqueles que fizeram buracos no meu coração.
Não acredito nessas promessas vazias de que não me vão magoar. Porque sei que o farão se lhes der uma oportunidade.
Não estou zangado nem estou a fazer uma birra. Estou simplesmente desiludido comigo próprio. Só não percebo como pude ser tão ingénua ao ponto de dar a alguém as ferramentas para me destruir e acreditar piamente que ele nunca o faria.
Talvez eu me permita voltar a ser o que era antes. Talvez eu dê outra oportunidade à vida. Talvez decida voltar a amar e a confiar, mas esse "talvez" não será para breve.