Pensei que era suposto amares-me. Pensei que era suposto tornares-me melhor e mais forte do que já sou. Pensei que fosses a minha pessoa para sempre.
Não sabia que o amor podia fazer-te mal. Recusava-me a acreditar que havia outro lado do amor - cruel e doloroso ou talvez apenas completamente errado.
Sabe, toda a minha vida tive medo que me acontecesse algo semelhante e tinha razão. Estava sempre a ouvir histórias de homens abusivos e das suas mulheres que não tinham coragem de se afastar.
Sempre me perguntei como é que eles podiam ser tão estúpidos. Porque é que eles não se vão embora?
E anos depois, meti-me na mesma confusão. E não conseguia sair. Eu era aquela mulher que não tinha coragem de lutar pela sua vida.
Eu era aquela mulher que estava sempre a receber uma pancada atrás da outra e continuava a ficar.
Meu Deus, como é que vim aqui parar?
Que passos errados dei no meu caminho? Porque é que não me avisaram quando te conheci? Como é que me deixei dar aquele salto desconhecido para um futuro doloroso contigo?
Sei que cometi muitos erros. Todos cometemos, mas agora pergunto-me: "Será que existe algum tipo de alarme que dispara sempre que estamos prestes a cometer o maior erro da nossa vida?" Tem de haver! Um aviso interior que nos mantém seguros. Se existe, acho que o meu se avariou.
E mesmo que estivesse lá, ignorei-o completamente. Se calhar, estava tão apaixonado que não ouvi os gritos que vinham de dentro: "Sai daqui!!!" Ignorei aquele som penetrante de aviso e cometi o maior erro da minha vida - apaixonei-me por TU.
A partir desse momento, tudo dependia de mim. Cada decisão minha levou-me ao momento que estou a viver agora.
Ver também: Lamento não te ter deixado partir
O tempo que passámos juntos formou um mundo à parte - um sítio isolado a que só nós os dois tínhamos acesso. Tu tinhas a chave de todas as portas e eu era apenas um mero camponês.
Incapaz de explorar o mundo. Incapaz de o conquistar. Estava a viver num lugar que não conseguia compreender. Esqueci-me de quem sou.
Sempre que me olhava ao espelho, via o teu reflexo. A cada dia que passava e a cada olhar que se seguia, eu ia-me apagando e tu aparecias.
Tu consumiste-me lentamente e transformaste-me em algo que eu não sou, algo que nunca deveria ser.
Sugaste-me a vida e deixaste apenas um pálido esboço do que costumava ser eu.
Não sei quanto tempo vai durar esta batalha pela vida. Não percebo porque é que ainda não me transformei num belo pó de prata, porque é que ainda não me livrei de toda a dor?
É assim que me imagino quando finalmente me libertar das correntes indestrutíveis que me sufocam - um belo pó prateado, livre para ir para onde quiser.
Não sei se sou à prova de bala. Será que vou sofrer toda a minha vida só porque posso - só porque ainda não estou estragado?
Talvez eu tenha que bater no fundo do poço. Talvez essa queda me parta num milhão de pedaços pequenos e afiados.
Mas tenho medo. Tenho medo que se este sítio onde estou agora não é o mais baixo dos baixos, o que será?
Serei capaz de sobreviver? Quem é que vai apanhar os cacos?
Sei que tenho de continuar a tentar e a lutar nesta vida porque fui eu que a escolhi.
Ninguém me forçou a isto, mas alguém me está a forçar a ficar - alguém não me está a deixar ir.
Embora esse alguém-vocês veja toda a dor paralisante que me está a comer viva, não me deixa ir.
Continuas a insistir até me destruíres completamente - até me tornar irreparável - até que mais ninguém me possa amar - até que eu esteja finalmente arruinado para sempre.