Não sei se alguma vez sentiu aqueles arrepios nas manhãs frias em que acorda sozinho, sem ninguém para beijar e sem ninguém para lhe dizer bom dia.
Essas manhãs eram tão solitárias e eu não conseguia levantar-me da cama sem chorar. Devo parecer desesperada, peço desculpa.
Mas quando dedicamos anos e anos a uma pessoa que nos deixou quando mais precisávamos dela, começamos a imaginá-la por perto.
Falamos enquanto os imaginamos perto de nós e como nos estão a ouvir. Os momentos em que o imaginava ao meu lado eram tão dolorosos.
Quando me esforcei por te receber na minha vida, sabia que ias ser um daqueles tipos simpáticos de que as pessoas me falavam. De alguma forma, eu não acreditava que tu existisses.
Quem me pode culpar? Depois de todos aqueles desgostos e lágrimas choradas, a minha mente deixou de acreditar que homens como tu existiam!
Disseste que eu era a mulher mais bonita que viste e que o meu sorriso podia iluminar até a noite mais escura.
O meu coração saltou uma batida e a minha garganta estava cheia de palavras que queria dizer naquele momento. Não pensei que fosses ser um desses cabrões.
Desde o nosso primeiro encontro e aquele maravilhoso passeio no parque, vi realmente algo de novo em ti, algo que não tinha visto (ou sentido) antes. Eras um ser humano maravilhoso.
E isso assustou-me. Muito.
Eu não sabia como me comportar no início, mas tu achavas que era giro. Apaixonaste-te por mim. Sem sequer saber, eu também me apaixonei por ti.
Sobrecarregaste-me com presentes de amor e afeto incondicionais. Chegou então o dia em que me sentaste para te contar a história escondida atrás do meu coração partido e as paredes que construí.
Sem pensar duas vezes, contei-te tudo. Desde o início.
Disse-lhe que ele me maltratava verbalmente até ao ponto de eu gritar de agonia, que trazia para casa as suas "amigas" só para me comparar com elas constantemente.
E eu contei-te como eles, mesmo à minha frente, namoriscavam um com o outro e iam para o quarto dele. Eu ia-me embora. Estás a pensar porque fiquei tanto tempo?
Ele vinha sempre ter comigo para me pedir perdão, para me pedir que o aceitasse de volta, às vezes até chorava. O que terias feito no meu lugar?
Esta é a parte em que me abraçaste e começaste a sussurrar as coisas mais emocionantes.
Disseste-me que me ias amar e acarinhar e que nunca mais me aconteceria uma coisa destas. Por isso, passei-me.
Não deixei transparecer na altura, mas quando cheguei a casa, desatei a chorar e não sabia mesmo como lidar com a sua bondade.
Comecei a escrever todas aquelas coisas maravilhosas que me dizias só para as poder guardar quando te fosses embora. Se te fosses embora, quero dizer.
Não pudeste deixar de reparar que comecei a ficar cada vez mais frio contigo.
Começaste a pensar se terias feito algo de errado para me insultar, mas não foste tu, minha querida. Nunca foste tu.
Não podias deixar de ser a pessoa mais simpática para mim, de sempre! Então, foi por isso que construí muros ainda mais altos para me proteger, caso me deixasses. Eu não queria que te fosses embora.
Chorava até adormecer todas as noites porque imaginava que estavas farto de mim.
Acho que são as consequências de um abusador. Hoje, não sei como lidar com o abandono!
Por mais que me dissesses que me amavas e que nunca me deixarias, o medo estava sempre presente! Então, comecei a pensar um pouco mais sobre o assunto.
Alguma vez fizeste algo que me fizesse sentir insegura? Não.
Alguma vez fizeste alguma coisa para me mostrar que não te importavas? Não. Alguma vez disseste algo que me insultasse? Não. Foste a pessoa mais querida para mim? SIM!
Então, porque é que eu ainda tinha tanto medo? Tinha medo que te fosses embora, como todos os outros na minha vida fizeram.
É por isso que queria pedir desculpa por todos os muros que ainda vais ter de atravessar, por todas as noites em que desatei a chorar e te acordei, por todas as vezes que gritei contigo.
Tudo. Peço desculpa. Estou mesmo, mesmo, mesmo arrependida. Além disso, quero agradecer-te. Quero agradecer-te pela pessoa que fizeste de mim.
Fizeste-me acreditar no amor outra vez! Quero agradecer-te por todas as vezes que estiveste lá para mim e por todos aqueles abraços maravilhosos. Obrigado.
Apesar de todas estas coisas me terem feito temer a possibilidade de um dia me deixares, estou grato.
Fazes-me esquecer isso de cada vez que me olhas nos olhos e já passaram anos desde que me disseste pela primeira vez que me amavas. Ainda estás aqui? Sim. Sim, estás.