De certeza que já ouviram histórias sobre raparigas que mudam emocionalmente depois de serem magoadas. Sobre raparigas que se tornam reservadas e mais cuidadosas.
Sobre raparigas que deixam de acreditar no amor e que se tornam medo de amar.
Tenho a certeza que já ouviu histórias sobre raparigas que se tornam insensíveis depois de terem o coração partido.
Que constroem muros à sua volta e que se protegem depois de alguém que amavam os ter destruído completamente.
De certeza que já ouviram histórias sobre raparigas que se tornam indisponíveis para os outros, depois de certos tipos os partirem em pedaços.
Bem, se já o fez, sabe tudo sobre mim porque sou uma dessas raparigas.
Eu sou uma das raparigas que amou o homem errado com todo o meu coração. Uma rapariga que lhe deu tudo o que tinha e uma rapariga que achava que ele a merecia.
Eu era uma rapariga que se esforçava por uma relação que não tinha futuro e uma rapariga que estava disposta a sacrificar-se por esse homem.
Mas também fui uma rapariga que se magoou. Uma rapariga que foi tomada como garantida e cujas vulnerabilidades e amor foram usados contra ela.
E depois de ter finalmente terminado tudo com este homem, mudei drasticamente. Deixei de acreditar nas pessoas e pensei que a única intenção de toda a gente era magoar-me e partir-me o coração.
Comecei a pensar que todos os homens eram iguais e nem sequer estava preparada para dar uma oportunidade a um homem, porque pensava que ia acabar com o coração partido, como aconteceu no passado.
Por isso, estava pronto a fazer tudo o que fosse preciso para impedir que isso acontecesse. Levantei a guarda e construí grossas paredes emocionais à volta do meu coração, que eram suficientemente fortes para manter todos os intrusos fora.
E sim, tornei-me um mulher emocionalmente indisponível. Ou alguns poderão dizer que também fiquei emocionalmente danificado.
Sim, este modo de vida privou-me provavelmente de muito amor.
É provável que tenha perdido a oportunidade de conhecer pessoas extraordinárias e é possível que não tenha deixado entrar alguns tipos fantásticos que mereciam ter uma oportunidade.
E podem dizer que isto não tem nada de bom.
Mas a verdade é que, embora me tenha tornado indisponível para que os outros me amem, também me protegi de toda a dor emocional possível.
Também me tornei indisponível para que alguém me magoe. Evitei que o meu coração se partisse de novo.
Poupei-me a potenciais lágrimas e desilusões. Poupei-me a desperdiçar o meu tempo e energia com alguém que não merece que eu mexa um dedo.
Salvei-me de ter esperanças e de planear um futuro com alguém que me tem manipulado desde o início. De me apaixonar por alguém que só quer entrar nas minhas calças.
Salvei-me de ser emocionalmente ou abusado fisicamentede ser enganado e de ser humilhado.
De ser culpada por cada pequena coisa que corre mal e de alguém me dizer que não sou digna do seu amor ou atenção.
Salvei-me de ser aproveitada, de ser enganada e de ser tomada como garantida.
De me perguntar porque é que um homem que eu amo tanto nunca me pode amar o suficiente e porque é que ele nunca pode ser só meu.
Poupei-me a horas e horas a olhar para um ecrã de telemóvel em branco, à espera que ele me ligasse ou respondesse à minha mensagem.
De adormecer toda aperaltada, à espera que ele me fosse buscar. Poupei-me a inúmeras noites sem dormir e a um oceano de lágrimas.
De implorar a um homem que me escolha e que me ame. De implorar para que ele se comprometa comigo.
Salvei-me de questionar o meu valor e de me perguntar porque é que nunca fui suficiente. De me perguntar se havia algo mais que eu poderia ter feito para que o homem que amo me amasse mais.
E não sei se isso foi a melhor coisa que podia ter feito. Não sei se poderia ter escolhido outra forma de lidar com o meu trauma de abandono e com o meu desgosto.
Mas o que eu sei é que era a única coisa que eu sabia fazer. E que, na altura, eu via este caminho como a única forma de me curar e de me ajudar.